quarta-feira, 30 de maio de 2018



MAFLA

Há muito houve uma pessoa que era conhecido como Mafla. Seu nome real em nada importa, que permaneça perdido na obscuridade,  mas o importante foi seu legado em sua breve existência, se destrutivo para ele, espetacularmente edificante para aqueles que o conheceram.

        Mafla era apelas Mafla, simplesmente My Flower. Pessoa como quase todas as outras, tinha uma diferença fundamental: era a personificação material do amor.

        Sua visão sobre os sentimentos era diferente de todos: não sabia ficar sem amar. Amava a todos e a tudo. Onde se aproximasse, tal qual Midas, fazia explodir o bem estar entre ele e quem quer que fosse, e até mesmo entre duas ou mais pessoas. Florescia então o sentimento construtivo, o bom relacionamento, o desejo de estar sempre com a mesma pessoa ao lado, de um alegrar ao outro, de um satisfazer ao outro, de se complementarem, fosse do mesmo ou do sexo diferente. 

        Este era o toque mágico de Midas que Mafla possuía, o do bem estar, do amor completo, acima das convenções morais e sociais da época, sem que houvessem restrições de quem quer que fosse, com total liberdade de ação e expressão.



        Mas infelizmente, este sentimento era passageiro, e logo se esvaia, apenas permanecendo depois a sensação de nulidade, um vazio infindável, um abismo de solidão que envolvia o relacionamento...

        Um raro material chegou até minhas, mãos, uma carta que tomei a liberdade de anexar a estas considerações, mero relance de seu existir...

<> 

Piracicaba, 20 de junho de 1971
        Ola V....

Hoje, já de manhã senti que deveria conversar com alguém, tentei falar comigo mesmo mas vejo que de nada adiantou, que bosta de vida, e puta que pariu os outros, porque devemos dar tanto da gente, porque as vezes somos um coração de BOLBULINA na vida, deveríamos ser nojentos e mesquinhos pois talvez não sofreríamos, porque temos de ter em mente os outros, e justamente aquelas pessoas que nem sabem retribuir o que necessitamos.

V..., apelei para você minhas mágoas pois você é um excelente travesseiro, pelo menos escuta e diz que tudo o que penso é legal. Ah, que vontade de sair por aí amando a todos, meu Deus, quantas bocas ainda falta eu beijar, quantos braços falta a gente abraçar, acho que nem cheguei aos 1.000 ainda, somos uma população tão grande, será que existe alguém igual a mim, ou será só eu um vendedor ambulante de carinhos e amor?

SEMPE É BOM TEMOS CONSCIÊNCIA QUE DENTRO DE NÓS HÁ UM ALGUÉM QUE TUDO SABE. My God, quem será esse alguem que não quer se comunicar comigo, porque? Sou de um coração tão grande, porque eh? É a fossa se comunicar e se esfolar, é uma merda saber dar, é um troço se masturbar mentalmente quando admiramos as coisas lindas, aquelas que perguntamos a nós mesmos se toparíamos nem que fosse por alguns segundos quaisquer. AH, quantas coisas lindas vemos por dia, quando me masturbo por dia, como eu amo demais por dia, sabe, chego a pensar que sofro de tesão ou mesmo sexo maníaco, mas não é não é somente falta do calor humanos que sinto por minha caloria que ultrapassa todo este povo mesquinho que só pensa em desgraça, e neste fim de poema, é que me expresso sem dor, por favor me compreenda, só quero amor, mais amor...

<> 

Houve um tempo que Mafla se superou... mas chegou uma hora que cedeu ao seu desespero obscuro...

De tanto dar e receber amor, de tanto oscilar entre a satisfação e o desespero, de tanto ver desmoronar o mundo ao seu lado, também acabou finalmente por ruir...

Numa noite obscura...

Um revolver saído do nada...

O frio metal encostado na cabeça...

Um último adeus ao mundo...

Uma língua de fogo saindo do cano... 

Um projétil esfacelando crânio e cérebro...

E assim Mafla foi repousar na eternidade...

Nenhum comentário: