terça-feira, 23 de novembro de 2010

VISLUMBRES DA INFÂNCIA 5


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Como era gostoso meu tempo de infância. Eu era feliz e não sabia. Gostaria de recordar outros fatos de minha meninice, de meus sete, oito anos de idade, além dos já abordados.


Estava com esta idade no Grupo Escolar Moraes Barros. Naquele tempo, apesar de não termos mais a terrível palmatória (cujas histórias chegavam aos meus ouvidos por minha mãe, também professora escolar), ainda existia o hábito de, em alguns casos, ser colocado pelas antigas professoras, sentado ao lado da lousa, “de castigo”, quando éramos muito barulhentos, indisciplinaodos ou quando não conseguíamos escrever ou ler as palavras corretamente. Era uma situação vexatória, humilhante, mas com ótimos resultados. No dia seguinte sabíamos tudo o que era necessário para não incorrermos de novo naquela situação desagradável, e nos livrarmos das zombarias dos colegas.




Também neste tempo as eleições eram um tempo de diversão. Muitas táticas, hoje totalmente proibidas eram utilizadas, e nós, crianças daquele tempo, não deixávamos de notar e tentar tirar alguma vantagem.




Próximo a minha casa quando era criança, uma série de políticos costumavam alugar imóveis, e faziam deste, seus currais eleitorais. Neste tempo o papel era caro, e nossa diversão era conseguir material para podermos colar ou recortar, usar em nossos bodoques de dedo ou tubos da folha de mamão ou mesmo fazermos nossos aviõezinhos de papel. E também não podíamos deixar de notar pessoas saindo com um pé de sapato, uma prótese dentária (geralmente a inferior) ou outros objetos. Eventualmente até com dinheiro saiam, somente que era apenas metade da nota. O que faltase deveria ir ser pega depois da eleição, desde que o político fosse eleito.





No dia da eleição eram caminhões e mais caminhões que saiam indo buscar eleitores na área urbana e rural, distribuição de refrigerantes e lanches, “santinhos”, e todo o tipo de propaganda impressa. Bandeiras e mais bandeiras circulavam pela cidade, carregadas pelos militantes políticos, fossem a pé, fossem em veículos com grande alarde. Era uma verdadeira festa, que engajava a todos, eleitores e não eleitores. E é claro que havia também as discórdias que ocorriam quando grupos rivais se encontravam. Isto geralmente sucedia nos locais onde ocorriam as votações ou suas cercanias.




E depois da apuração, que demorava alguns dias, era uma verdadeira romaria destas pessoas vindo buscar a paridade do objeto antes conseguido...






Também nas cercanias havia sede de outros partidos. A sempre desculpa que usávamos era que eles queriam se fizéssemos propaganda para eles ou para os adversários. E assim além do almejado papel de propaganda, sempre conseguíamos obter mais alguma vantagem, que logo era convertida nas padarias em doces ou deliciosas balas, para o verdadeiro terror de nossas famílias. Quando descobertos, não raro acontecia alguns aconchegos (palmadas) em nossos traseiros. E destas terríveis travessuras infantis sobraram algumas recordações, como as que decoram este texto, do General Lott, de Adhemar de Barros, Juscelino Kubitschek, de Janio Quadros e outros.







Com este e os outros textos de recordações já mostrados, não poderia deixar de relembrar uma clássica poesia, de Casimiro de Abreu, um pouco mais que sesquicentenária, que a grande maioria dos antigos alunos dos cursos de grupo, ginásio e colegial ainda devem tê-la guardada em algum canto sombrio, quase insondável da memória, e que transcrevemos:








Meus Oito Anos
Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Como são belos os dias
Do despontar da existência !
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !
Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !
Oh ! dias de minha infância !
Oh ! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !
Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !
Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !