sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

MILAGRE DO NATAL

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Quando se aproximam as festas natalícias, fatos há muito tempo passados começam fluir à mente com mais intensidade e tomam formas mais consistentes. Rememora-me então, ainda quando crianças, com não mais de seis ou sete anos, sentados no tapete, montando o presépio ou enfeitando a árvore, ouvíamos nossos avós, em suas cadeiras de balanço, lerem ou contarem suas histórias, que até hoje ressurgem à mente.













Era um momento de magia, no início da noite, as luzes a piscar, e no mistério infantil que envolvia o natal, isto era quase que sobrenatural. Agora estas recordações constituem nossa herança cultural, transmitida por aqueles que há muito se foram. E entre as muitas que ouvíamos, esta era uma delas, que ousei chamar de...



































Milagre de Natal

(in memorian
Antonieta Renna Busatto)










Há muito e muito tempo, havia uma menina, com seus nove ou dez anos, de olhos azuis profundos. A vida não era feliz com ela, andava envolta em seus andrajos, quase nunca se banhava, a fome geralmente estava a devorar suas entranhas. Comia o que lhe davam pelas casas, dormia onde pudesse abrigar-se dos meninos, da chuva ou do frio. E esta situação perdurava por anos.







Agora, em plena véspera de natal, mais uma vez submersa em gélida ventania, caminhava buscando lugar seguro para abrigar-se do mal maior que ainda poderia lhe acontecer. Em suas vestes esfarrapadas existem mais buracos que tecidos, que mal cobrem o trêmulo corpo por onde o frio insiste em penetrar. Segura entre os enrijecidos dedos o seu grande prêmio do dia, uma caixa de fósforos com alguns palitos. Quem a havia dado insistia que os palitos eram mágicos, e somente deveriam ser acesos durante a noite, para que ocorresse um milagre.











Andando pela fria cidade, todas as casas fechadas, onde luzes fluíam de seu interior, mostrando a alegria e felicidade nos lares. E ela sozinha, se sentindo perdida naquele espaço que tudo lhe negava. E não lhe abandonavam a mente as palavras daquela velhinha, coberta de rugas, mas com uma pele tão jovial. “Só os acenda durante a noite, para que ocorra o milagre...”


De uma mansão à frente, com suas ostentosas janelas e portas, todas ornadas com enfeites das mais variadas cores e formas, chega o som de músicas natalinas, o odor dos alimentos que jamais saborearia... no seu interior conseguia vislumbrar uma árvore de natal de tamanho gigantesco, resplandecente em suas luzes e enfeites. Aos seus pés, caixas e mais caixas com presentes. Crianças corriam em todos os quartos que podia divisar fazendo algazarras, enquanto os adultos conversavam em suas confortáveis poltronas. Mais uma vez a saudade agitou seu pequeno corpo... As doces lembranças de um tempo há muito ido... A imagem de seu pai e mãe... E o carinho que tinham com ela.










Mas para ela, enjeitada da sociedade e de todos, não havia aonde ir a não ser abrigar-se em um velho celeiro atrás do palacete. Temia pedir abrigo e vir a ser enxotada. Lentamente aproximou-se da construção. Encontra a porta, que range levemente quando é empurrada e se abre.










Mal consegue ver o que há a sua volta. Uma charrete... Instrumentos de cuidar da terra... Alimentos para animais. Fecha a porta e procura por um lugar onde possa se sentir mais confortável. Em um canto, pendurada na parede, uma sela, e caído ao chão, observa o baixeiro e alguns panos velhos, usados para encilhar animais. Deita-se sobre eles e com outro se cobre. Parece que o vento frio ficou um pouco além, e não cortava tanto.









Nas mãos, onde ainda permanecia firmemente seguro o misterioso presente, vinha à lembrança das palavras murmuradas de quem havia dado o mimo: “São fósforos mágicos. Deixe-os para acender para uma nova vida, onde haja esperanças de uma existência melhor, com alegrias incomensuráveis. Terá que acendê-los uma após o outro, e quando fizer isto, alguma coisa maravilhosa acontecerá...”


















Nada mais havia de esperar daquela noite fria e gélida, a não ser um verdadeiro milagre. Com os borborigmos na barriga, a esquecer a fome, o frio e os dedos enrijecidos por êle, com dificuldades abriu a caixa, tomando cuidado para não perder os poucos palitos.















Tomou de um deles e o acendeu, fazendo que pequeno clarão surgisse. O frio afastou-se mais um pouco, dando lugar a uma brisa morna que a envolveu. E dentro deste círculo luminoso mágico de que a envolvia meio aquecida, vislumbrou sua mãe, que há muito tempo não via. Estava um pouco longe, mas docemente a chamava com as mãos, o rosto risonho, fazendo prenúncios de uma existência melhor. Não podia acreditar no que via. Permaneceu extasiada, dentro daquele feitiço, que se recusava a acreditar. Tão concentrada estava, esqueceu até o fósforo que ao apagar-se, queimando seus pequenos dedos, fez com que as cenas desaparecessem.




Dentro da mansão, ainda chegavam os ruídos da festa. Gritos de alegria, exacerbações de surpresas, odor de alimentos. Mas agora não incomodavam tanto. Estavam muito mais distantes, e neste momento eram quase inexistentes. Aquele celeiro realmente estava impregnado de certa magia. Ainda estava a se beliscar, mal acreditando no que havia visto. Sua mãe, com suas belas roupas ainda quando era criança... As saudades invadiram seu coração e uma lágrima rolou de seus olhos. De dor, tristeza, ausência, todas incomensuráveis. Sentiu novamente o frio voltar a envolvê-la. Mas do lado que havia visto sua mãe, parece que havia um pequeno calor a mais. Pegou os trapos com que se envolvera e mudou de lugar. Foi para aquele canto, ele parecia mais mágico. Balançou a caixa de fósforos, havia mais alguns palitos. Com todo o cuidado acendeu o segundo.





O frio foi espantado de seu lado. Chegara mesmo a sentir algum pequeno calor. O tremor que envolvia seus dedos e corpo praticamente desapareceram. Agora podia ver sua mãe com mais detalhes. O rosto risonho... Face corada... Mãos estendidas... Pequenas rugas que talhavam suas mãos... Chegou mesmo até a ouvi-la sussurrando seu nome, palavras que há muito tempo não ouvia... Promessas de viver sem sofrimentos... Um futuro com uma vida melhor... A satisfação de ter sempre por perto sua genitora... E de súbito a brasa do fósforo atingiu seus dedos pela segunda vez... O pequeno pedaço que lhe ainda segurava voou para longe com o movimento involuntário da queimadura, e dirigindo a parte dolorida aos lábios ressequidos, fez com que a dor tornasse mais branda.

Estava assustada. Estes fatos nunca haviam ocorrido com ela. Misturava no seu interior uma sensação de dúvidas com angústia. Não queria, mas as lágrimas rolavam de seus olhos. As doces recordações da mãe e do pai... O pequeno cachorro que enchia o espaço da casa onde morara... A felicidade em ter um lar... O desespero quando os dois se foram... Como fora difícil sepultá-los... Um logo após o outro... Os anos difíceis sobrevivendo na rua...




Novamente balançou a caixa. Havia um último palito. Tinha que acendê-lo. Necessitava uma vez mais saber o fim da história. Queria sentir mais uma vez a cálida presença da mãe. E havia o receio que ele negasse fogo... Era sua derradeira chance.



Com cuidado e receio riscou o último palito. Uma primeira vez apenas algumas fagulhas apareceram e morreram na escuridão. Uma segunda vez... E nada a acontecer. Estava assustada. Havia antevisto tantas coisas belas e felizes. E agora se via ante o risco de perder tudo. Riscou o fósforo uma terceira vez, rezando para nada acontecer, para ter sucesso. Eis que ele explode em luz. Sua mãe agora já estava ao seu lado, alegre e brincalhona como sempre fora, e ela recordava... Tudo ao seu redor havia mudado. Quase que não podia acreditar no que via... O interior do galpão sumira, e agora em seu lugar existia um campo verdejante, pontilhado em todas as cores... O perfume que dele exalava era coisa maravilhosa. Sua mãe vestia belos trajes, sentada entre as miríades de flores. E quando olhou a si própria, viu que suas vestes não eram mais as mesmas. Os farrapos haviam desaparecido, dando lugar a belo vestido. A fome não a incomodava mais. Havia saciada. Assim também foi com o frio e todos os outros receios. Era como esta vivesse de volta ao lar novamente. E sentiu a felicidade explodir no seu interior como há muito tempo não ocorria.





Deitou-se ao colo da mãe. Os passarinhos cantavam, o sol resplandecia... Sua mãe acariciava seus cabelos, e finalmente a menina fez algo que há muito tempo não fazia: sorriu um riso espontâneo, que realmente vinha do âmago do coração.





A mãe também sorriu. As duas se levantaram, e de mãos dadas começaram a andar. Caminharam... e suas imagens perderam-se no infinito. Realmente, desta vez a menina nem chegou a ver ou sentir quando o fósforo apagou-se entre seus dedos.




Pela manhã, os serviçais, ao abrirem o celeiro, encontraram o corpo da menina, todo encolhido, alquebrado pela fome e doença. Mas não conseguiram entender uma coisa... O porquê dos olhos abertos, voltados para a eternidade, e mais ainda, o porquê do sorriso de total alegria e satisfação que envolvia toda aquela face esquálida e lânguida.

sábado, 5 de dezembro de 2009

I FESTIVAL DE CURURU DE TATUÍ

Justificativa




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Dentro de nossa vivência e experiência profissional como médico, agora já encerrada, observamos diversas fases existenciais dentro das expectativas do ser humano, que se tornam extremamente mais exuberantes quando associadas à presença de doenças graves ou terminais que podem assolar ao indivíduo. Há cinco fases distintas como o homem encara a doença: a fase da negação, depois da raiva, a da negociação, da depressão e por último a fase de aceitação.







Ao nosso ver, as três primeiras fases são as mais importantes, pois, se de um lado reconhecem a inexorabilidade do destino e existência humana (principalmente aos observadores externos), também implicam na desempenho reacionário do livre arbítrio em poder se rebelar e lutar por alguma coisa que não se aceita, não se tolera, e se classifica como totalmente inválido e impossível (às vistas do doente). As duas últimas podem ser encaradas como fases de derrota, pois implicam no reconhecimento, da entrega e da submissão, onde simplesmente tudo que acontece, por pior que seja, é simplesmente a senda que deve ser percorrida, até se culminar no apocalíptico final da existência, seja, o aniquilamento e morte do ser humano.




Aqueles que subsistem nas primeiras fases são os verdadeiros manipuladores do destino, aqueles que constroem e, mesmo depois de mortos, sua existência foi tão forte e marcante, que conseguem fazer com que sua imagem perdure vívida na mente de outros.


Estes conceitos podem ser estendidos por similaridade a praticamente tudo que o ser humano vivencia. E inclusive aos próprios valores existenciais em relação aos fatos que aparentemente mostram-se como corriqueiros dentro da existência.

Nhô Serra






Fomos solicitados a escrever sobre determinada pessoa, piracicabana, que se projetou como figura ímpar dentro da cultura popular, Sebastião da Silva Bueno, conhecido como Nhô Serra, vulto de projeção no cururu por aproximadamente três décadas, iniciando-se aproximadamente na metade do século XX. Foi um dos baluartes da arte repentista do Vale do Médio Tietê.









Apesar de não termos conhecido-o pessoalmente, o caminho de busca de seu perfil como pai e homem público, as marcas deixadas por sua passagem nos extensos e vívidos depoimentos relatando sua vida, sua luta, tanto nas observações de seus familiares (esposa e filhos) como contemporâneos, aqueles que não apenas o conheceram, mas conviveram com ele no dia a dia, o demarcaram como um destes elementos que não se deixava facilmente a fraquejar perante o infortúnio. A bandeira que foi o porta-estandarte durante a vida, juntamente com outros contemporâneos, trouxeram-me a firme convicção da necessidade de se lutar pela preservação e manutenção desta manifestação popular que defendia e é o canto repentista (que tem suas raízes seguramente presentes deste a própria catequização, remontando às décadas de 1500).

Abel Bueno




Foi uma experiência fantástica, pois ao mesmo tempo que observávamos o tomar de formas do arcabouço deste memorável, íamos desbravando seus relacionamentos, seus sucessos e fracassos, seus desejos e frustrações. Delineamos pois, em todo o vigor a imagem de um eterno lutador, que habilmente trabalhava o seu dia a dia.




A coletânea dos fatos que todos estes personagens, como Horácio Neto, Jonata Neto, Abel Bueno, Parafuso (Antonio Cândido), Pedro Chiquito, Luizinho Rosa e muitos outros transferiram à minha pessoa constituíram-se na rememoração dos seus mais profundos âmagos, seus sonhos e pesadelos, e devem, dentro do possível, serem preservados na sua intimidade.





Horácio Neto e Moacir Siqueira







Planificação

Ciente da luta desproporcional que nos propunhamos a lançar, Abel Bueno ainda mais sem nenhum apoio de quem quer que fosse, a não ser dos próprios repentistas e de Oscar Francisco da Silva Bueno, filho de Nhô Serra, desde 2003 começamos a coletar dados sobre estas pessoas, os repentistas, do que resultou em mais de duas centenas de horas de gravação de não apenas som, mas também imagem, que hoje constitui-se em um pequeno patrimônio particular. Também foi feito o possível para recuperar a discografia destes cantores. Outros assuntos além do cururu também foram incorporados, mostrando tendências culturais existentes na região do Médio Tietê.

Pedro Chiquito







A convivência com estes elementos, pessoas simples, geralmente septuagenários ou mais, com escolaridade fundamental incompleta, mas com a fibra forjada pelas necessidades existenciais do dia a dia, mesclada com o arauto e poeta que saía exprimindo suas idéias, outras vezes transmitindo em suas fábulas conceitos de certo e errado, levando a palavra da Bíblia, foram elementos de convicção da necessidade de se manter esta tradição, que é uma das heranças da cultura popular desta região.

A escalada da tecnologia a largos passos seguramente acarretará o quase desaparecimento do tipo de pessoa que pudesse interagir adequadamente com o cururu, mas sempre existe o elemento surpresa, que nos faz errar nas convicções firmadas de estimativas e projeções não mensuráveis.

Parafuso










Em 2008, havia o foro particular que era chegado o momento de iniciar a contenda com a divulgação deste material. E graças à internet, no site da Youtube, que foi o escolhido, começamos a editar pequenos filmes, chamando a atenção do público para estas pessoas.





Luizinho Rosa








Optamos por colocar no Youtube semanalmente dois ou mais pequenos filmes. iniciamos em setembro, e quando em dezembro de 2008 tínhamos tido 1.100 acessos. No ano de 2009, entre janeiro a abril tivemos 5700 acessos, entre maio a agosto tivemos 11.000 acessos, e entre setembro a dezembro o número de acessos foi de 18.000. O total de acessos deste que iniciamos as atividades são em número de 44.442 e ocorrem entre 150 a 200 acessos/dia. O número atual de filmes é de 140.








Conquanto ainda seja um número relativamente baixo de acessos, temos a convicção que ainda está em franco aumento, não tendo atingido seu ápice.






Nhô Serra e Zico Moreira (ult. a D.)




Cremos que com isto estabelecemos nestes dois anos de trabalho uma ponta de lança para a divulgação desta arte repentista, e que se continuarmos a mantê-la, logo poderemos colher os frutos de todo este pequeno trabalho que nos propusemos a executar.






O ano de 2009 foi extremamente difícil para o cururu. Duas perdas irreparáveis se fizeram presentes, primeiramente de Horácio Neto, seguida depois por Abel Bueno, irmão do Nhô Serra. Em Tatuí perdemos Noel Mathias, outro excelente canturião. A queda destes carvalhos, apesar de irreparáveis e angustiantes, foram mais um incentivo para permanecermos na luta, o que fizemos de toda a boa vontade. Os contatos com os cururueiros permanecem, e depois destes anos de convivência, creio que mostramos aos que nos conhecem a intenção de não utilização comercial do som e imagem que eles nos tem me cedido.





Noel Mathias



Surpresas




O evento cultural Revelando São Paulo há anos luta pela cultura popular. Evento digno dos maiores elogios, tem sido um baluarte no estímulo da conservação de tradições.



O mês de outubro foi extremamente gratificante. Quando recebemos a notícia que o Conservatório Dramático e Musical de Tatuí Dr. Carlos de Campos, juntamente com o Governo do Estado de São Paulo, o Departamento Cultural de Tatuí, a Comissão Paulista de Folclore haviam reunido esforços e montado o Primeiro Festival de Cururu de Tatuí, sentimos que realmente com este nível de apoio, esta manifestação cultural teria muito mais oportunidade de sobreviver.



A semente do estímulo para se fazer avançar na formação de novos cururueiros finalmente havia sido lançada. Sentimos que assim se concretizava um dos maiores desejos de Abel Bueno, de fazer com que esta manifestação cultural permanecesse preservada dentro do Vale do Médio Tietê.



Cremos ser de importância fundamental que esta pequena planta que começou a brotar mais uma vez, em pleno Vale do Médio Tietê, seja sempre protegida pelas mãos da decência e sensatez humana, possa crescer forte e viçosa, lançando suas ramificações e sementes por toda a região, fazendo ter esta manifestação a importância que merece dentro das raízes culturais do Estado de São Paulo. E vamos lançar nossos sonhos além, imaginando que dentro de um futuro não muito distante, possa haver um encontro nacional não só de cururueiros, mas de todas as formas de cantos repentistas que ocorrem por esta imensidão do Brasil afora.



Realmente pelo que pudemos sentir durante os três dias do Festival de Cururu de Tatuí, durante o qual tivemos plena colaboração dos envolvidos, e dentre estas pessoas não poderia esquecer os nomes de Deise Juliana e Luana Muzzile, que colocaram-se à disposição não apenas durante o festival, mas também em fases posteriores, auxiliando-nos no necessário.


A aceitabilidade do festival pelo povo tatuiense e outros presentes que compareceram na Concha Acústica de Tatuí foi total. Não poderíamos deixar de elogiar o serviços de iluminação e som impecáveis, prestados pela Stick Som.




Não poderíamos deixar de lançar nossos agradecimentos à prof. Dra. Neide Rodrigues Gomes, incansável folclorista, que abraçou a esta causa, bem como ao prof. Dr. Henrique Autran Dourado, Diretor Executivo do Conservatório Dramático e Musical de Tatuí Dr. Carlos de Campos, pela concretização deste Festival. Meus agradecimentos particulares ao Dr. Henrique pela autorização do uso das imagens do Festival de Cururu para fins não comerciais.

Dra. Neide Rodrigues Gomes











Para evitar que se extraviasse, tomamos a liberdade de transcrever as normas em que foi assentado o Primeiro Festival de Cururu de Tatuí, bem como outras reportagens associadas ao evento, todas transcritas do site www.conservatoriodetatui.org.br





Dr. Henrique Autran Dourado



REGULAMENTO DO



FESTIVAL DE CURURU DE TATUÍ


PREÂMBULO


O I Torneio Estadual Cururu Vivo de Tatuí será realizado pelo Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura, por intermédio do Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, em colaboração com a Secretaria Municipal de Cultura, Esportes, Lazer e Juventude, do Governo Municipal.



I - DAS INSCRIÇÕES


As inscrições serão realizadas até o dia 15 de outubro de 2009, nos termos do Art. 14 do presente Regulamento.




I I – DOS OBJETIVOS


Art. 1°- O I Torneio Estadual Cururu Vivo de Tatuí acontecerá nos dias 8, 15 e 22 de novembro de 2009, em três fases distintas, com objetivos de proteger e difundir as manifestações da tradição, da memória e da diversidade cultural do interior paulista, em caráter competitivo.



III – DAS FINALIDADES


Art 2°- O I Torneio Estadual Cururu Vivo de Tatuí estimulará a difusão do Cururu do Estado de São Paulo, visando à integração, intercâmbio e congraçamento entre os cururueiros, multiplicação do conhecimento, divulgação da cultura popular de raiz do Estado de São Paulo e do gênero como forma legítima de expressão da raiz da música brasileira, a ser preservada em nome das legítimas e ricas manifestações populares.



IV – DA PARTICIPAÇÃO


Art. 3° Para participar do Festival, os integrantes das duplas de Cururu deverão ser residentes no Estado de São Paulo, mediante documentação de comprovação a ser apresentada no ato da inscrição, conforme o Art. 14 deste regulamento.


§ 1.: Cada município deverá ser representado por apenas uma dupla, escolhida a critério de sua Secretaria ou Departamento de Cultura, por aclamação, sugestão, votação ou seleção, ou ainda processo que julgar conveniente, sob sua responsabilidade exclusiva.


§ 2. As inscrições de cada cidade deverão ser feitas com a apresentação dos seguintes documentos e materiais:


I – Documentação requerida no Art. 14 deste Regulamento.


II – Fita VHS ou DVD com apresentação de uma rodada (baixão, réplica e tréplica) sobre o tema “Minha Cidade”, discorrendo e debatendo sobre o município de origem da dupla, empregando a carreira do “A”.


§ 3. Uma comissão de avaliação, composta por membros estranhos à organização do evento e às duplas e cidades participantes, escolherá 8 duplas para a etapa semifinal.


§ 4. Nas semifinais, a serem realizadas na Concha Acústica Spartaco Rossi, de Tatuí, nos dias 8 e 15 de novembro de 2009, as 8 duplas selecionadas, divididas em 4 por cada dia, terão os nomes individuais de seus integrantes colocados em um chapéu, e os nomes dos contendores (desafiantes) serão escolhidos, para cada embate, por meio sorteio realizado em público, entre todos os candidatos, antes de cada eliminatória.



V – DA ORGANIZAÇÃO DAS ELIMINATÓRIAS E DA FINAL


Art. 5° O Torneio será realizado em 3 fases, a saber:


§1. Semifinais, a serem realizadas nos dias 8 e 15 de novembro de 2009, às 17h, na Concha Acústica "Spartaco Rossi" de Tatuí; com tempo cronometrado de 24 minutos para cada dupla das 4 selecionadas por noite.


§ 2. Final, a ser realizada no dia 22 de novembro de 2009, às 17h, na Concha Acústica "Spartaco Rossi" de Tatuí; com tempo cronometrado de 15 minutos para cada dupla, totalizando 2 duplas, sobre tema e carreira a serem sorteados em público


I – A Comissão Organizadora distribuirá, entre os selecionados para as eliminatórias, os nomes das duplas inscritas para participação em cada uma das duas eliminatórias e a data de participação, ambas por sorteio realizado à frente de três testemunhas que subscreverão a ata.


II - As carreiras das eliminatórias serão igualmente sorteadas para cada dupla escolhida, dentre três das mais tradicionais, ou seja, carreiras do Sagrado, de S. João e do “A”.


§ 3. Na final, a ser realizada no dia 22 de novembro, às 17h, na Concha Acústica "Spartaco Rossi" de Tatuí, entre as duas duplas vencedoras de cada noite, os temas e carreiras serão definidos por sorteio realizado diante do público.


I - As 3 carreiras da final somente serão conhecidas no momento do sorteio, diante do público, na ordem em que forem escolhidas.



VI – DA QUALIFICAÇÃO PARA A FINAL


Art. 6º A qualificação das duas duplas que integrarão a final será realizada por júri composto por 3 membros escolhidos pela Comissão Organizadora dentre pessoas de notório saber e efetiva militância no campo da arte popular, dissociadas das cidades participantes e seus representantes cururueiros, e será a responsável pelo julgamento dos embates a serem realizados na final, domingo, dia 22 de novembro às 17h, na Concha Acústica "Spartaco Rossi" de Tatuí


Art. 7º O júri conferirá nota mínima de 5 (cinco) e máxima de 10 (dez) para cada um dos seguintes quesitos, individualmente para cada participante, atribuindo a cada cururueiro até 2 pontos por cada item:


1) Abertura (Baixão)


2) Interpretação


3) Afinação


4) Ritmo/Entrosamento com o violeiro


5) Presteza na resposta e na sequência do tema sorteado/ Respeito ao tempo delimitado


§ 1. Em caso de empate, será considerado qualificado, nas eliminatórias, e vencedor, na final, aquele que obtiver melhor nota nos quesitos 2, 3, 4 e 5. Ainda persistindo o empate, caberá o prêmio ao participante mais idoso.


§ 2. O vencedor individual, independentemente do desempenho do parceiro, consagrará vencedora a dupla de sua cidade.


Art. 8º A Comissão Organizadora fará publicar no dia 18 de outubro de 2009, no site do Conservatório de Tatuí (www.conservatoriodetatui.org.br) os nomes das duplas de cada município classificadas para a disputa final do Festival, conforme disposto no § 3 do Art 5º deste Regulamento, enviando aos selecionados telegrama com aviso de recebimento.


§ 1. Em caso de desistência, será convocada a dupla classificada em quinto lugar.



VII – DAS APRESENTAÇÕES


Art. 10 O tempo de apresentação de cada dupla Cururu será de 15 (quinze) minutos, ampliado ou encurtado a critério da Comissão Organizadora.


§ Único: O participante que ultrapassar o tempo limite estipulado será penalizado com o desconto de 01 (um) ponto por minuto avançado subtraído da soma total dos pontos alcançados.


Art. 11 Os participantes de cada etapa deverão se apresentar com no mínimo uma hora de antecedência no local designado.



VIII – DA PREMIAÇÃO


Art. 12 Os quatro finalistas escolhidos receberão:


§ 1. Por ordem de classificação, troféus em dimensões crescentes às duplas classificadas do primeiro ao quarto lugar, em cujas placas deverão ser gravados os nomes e os detalhes do Festival e respectiva premiação.


§ 2. Prêmio em dinheiro, respectivamente, R$ 1.000,00 (hum mil reais), R$ 800,00 (oitocentos reais), R$ 600,00 (seiscentos reais) e R$ 400,00 (quatrocentos reais), do primeiro ao quarto lugar.


§ 3. Todos os cururueiros das eliminatórias serão contemplados com certificados de participação.


Art. 13 Com o objetivo de valorizar e incentivar a criatividade dos cururueiros de Tatuí - cidade sede de realização do evento -, fica instituído o Prêmio Horácio Neto, na forma de destaque individual, que consistirá em troféu especial e, caso não seja um semifinalista, jantar para a dupla e seu violeiro, com direito a acompanhante nos termos do Art. 16 deste Regulamento.



IX - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS


Art. 14 No ato de inscrição, a ser feita pela Secretaria de Cultura de cada Município no sítio da Internet do Conservatório de Tatuí (www.conservatoriodetatui.org.br), deverá ser enviada, com postagem até a data final das inscrições (15 de outubro de 2009) fita VHS ou DVD remetida via Sedex para o endereço postal do Conservatório (R. São Bento, 415, Tatuí, SP 18270-820).


Art. 15 O transporte para as semifinais será exclusivamente e de inteira responsabilidade dos Grupos.


Art. 16 O Conservatório, após a final, oferecerá jantar em um restaurante da cidade, com direito a um acompanhante para cada um dos 4 participantes, incluindo o violeiro e um acompanhante.


Art. 17 Para a final, o Conservatório de Tatuí providenciará o transporte das duplas e seus respectivos violeiros e acompanhantes.


Art. 18 Os casos omissos serão resolvidos pela comissão organizadora do evento.



Tatuí, 26 de setembro de 2009.


A Coordenação





Notícia


Dupla de Agudos vence Torneio Estadual Cururu Vivo


A dupla João de Lima e Belão, pai e filho que competiram acompanhados do violeiro Toninho da Viola, foram os grandes campeões do Torneio Estadual Cururu Vivo, evento organizado pelo Governo de São Paulo por meio do Conservatório de Tatuí e em parceria com a Prefeitura de Tatuí por meio da Secretaria da Cultura, Turismo, Esporte, Lazer e Juventude. Vindos da cidade de Agudos, os cururueiros obtiveram a maior pontuação na soma das notas da comissão julgadora do evento na grande final, realizada no domingo, 22, na Concha Acústica “Spartaco Rossi”.





O Torneio Estadual Cururu Vivo reuniu dez duplas, de dez cidades da região. Pela primeira colocação no evento, a dupla de Agudos recebeu prêmio de R$ 1 mil e troféu projetado pelo artista plástico Jaime Pinheiro. Na segunda colocação, ficou a dupla de Tatuí, formada por Zé Pinto e Zacarias, acompanhados pelo violeiro Josué, que recebeu troféu e prêmio de R$ 800. Zé Vitanca e Zezão Neto, que se apresentaram com o violeiro Zé Mulato, deram o terceiro lugar na disputa à cidade de Cesário Lange, obtendo prêmio de R$ 600 e troféu. A quarta colocação foi para João Zarias e Lino Jacinto, acompanhados por Claudinho Keller, de Pardinho, com prêmio de R$ 400. A dupla Jonata Neto e João Mazzero, acompanhados pelo violeiro Alessandro Silva, de Piracicaba, ficaram na quinta colocação e receberam o troféu especial “Horácio Neto”.



A comissão julgadora esteve formada pela professora Neide Gomes e por Mari e Marilene Galvão, conhecidas como “Irmãs Galvão”. Na mesma data, além dos duelos do cururu, ocorreram shows do Grupo de Choro do Conservatório de Tatuí (coordenado por Alexandre Bauab Junior) e do cantor Almir Sater. Pelo menos 3 mil pessoas acompanharam o evento.





O torneio foi organizado para difundir o cururu, com vistas à integração, intercâmbio e congraçamento entre os cururueiros, multiplicação do conhecimento, divulgação da cultura popular de raiz do Estado de São Paulo e do gênero como forma legítima de expressão da raiz da música brasileira, a ser preservada em nome das legítimas e ricas manifestações populares.














terça-feira, 7 de julho de 2009

LAU CARRARA


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Meu nome completo é Lazaro Luis Carrara nasci em 20 de março de 1962 em Piracicaba. Meus pais: Benedito Carrara e Catarina Maria Felicio Carrara. Meu pai veio do Bairro Paredão Vermelho e minha mãe é de Charqueada. Meu pai era lavrador, veio para Piracicaba, começou a trabalhar na Siderúrgica Dedini, e foi onde se aposentou.


Nasci em Piracicaba, e me criei no bairro São Luis, perto da Igreja São Luis. Foi ali que fiz minha Primeira Comunhão. Casei-me e permaneci morando na Vila Rezende. Hoje moro perto do Quartel, do 10⁰ Batalhão de Polícia. Tenho duas irmãs e uma filha.



Fiz o primário no Colégio das Freiras, ao lado da Igreja Matriz da Vila Rezende. Depois fiz o Senai como Ajustador Mecânico, aos 14 anos. Neste tempo eu fazia o Senai grátis e já trabalhava. Hoje tem que pagar para fazer o Senai e não se pode mais trabalhar(quando é menor).




Em 1977 eu já tinha registro em carteira. No meu ver, as coisas regrediram. Naquele tempo eu estudava, trabalhava, tinha meu dinheirinho. As coisas hoje parecem que regrediram. Hoje para criar um filho, a gente vê a dificuldade que se tem. Muitas vezes, a gente faz a faculdade e somente fica apenas com um cartucho na mão. Eu não entendo as coisas. As firmas querem pessoas com experiência. Como é que vai ter experiência, se acabou de sair da escola?


Em 79 fui dispensado da Dedini, durante a crise. Fiquei fazendo o segundo grau na Escola Industrial de eletrotécnica, e trabalhando em alguns serviços menores. Foi um tempo difícil, não se achava emprego. Mas mesmo assim consegui diversos empregos com este último curso. Fiz diversos desenhos mecânicos e de eletrotécnico.

Em 2003 nasceu minha filha, e tive que reorientar minha vida. Mas mesmo assim, consegui fazer um ano de faculdade e lançar um C.D. de piadas. Neste tempo exerci diversas atividades como autônomo.

Fiz concurso para funcionário estadual em 1994 onde fui admitido e até hoje permaneço.

Quando eu entrei no Senai, já costumava fazer algumas brincadeiras com baralho, e tenho mantido isto quando possível.


Sempre gostei de contar piadas. E isto vem desde o tempo de meu mai, que também me incentivava. Também faço mágicas há um grande tempo. Aprendi com o velho Manesco (hoje falecido) e o Kiehl (Dr. Kiehl –reportagem anexa). Fui convidado pelo Manesco a fazer parte do grupo , que fazia reunião na casa do Dr. Kiehl cada 15 dias. Eu levava alguns truques que sabia, e voltava sabendo outros. O interessante que, quando a gente vai em qualquer tipo de reunião, a gente leva alguma coisa e acaba divertindo não só a crianças, mas também aos adultos.





A idéia de gravar o C.D. de piadas iniciou-se em 2903. E teve um motivo: foi quando ocorreu o Segundo Salão de Humor de Piracicaba. Houve um anterior, em 2002, mas aconteceu em uma lanchonete, perto da Catedral de Santo Antonio, (Ciber Café ?) e eu tímido, não entrei. Ele ocorreu no Bar do João, na Rua Moraes Barros.


A piada com que ganhei era aquela em que o amigo vai pintar para outro a casa de graça. Quando começou o trabalho, o amigo chega antes em casa e encontra o pintor pelado, e suspeitou que ele estivesse se engraçando com sua mulher. Para escapar a acusação, ele disse que era absurdo o que ele estava pensando. É que além de pintar a casa de graça, não queria sujar sua roupa. Ao que o amigo retrucou: e este negócio duro, aí, o que significa? E logo veio a resposta: e você queria que eu fosse pendurar a lata de tinta onde?!!!




Posso considerar que comecei a exercer atividades como humorista nesta fase. Anteriormente, costumava contar piadas em bares, quando requisitado, ou durante alguma apresentação junto com moda de viola.




Quando lancei o C.D., mandei fazer 1.000 cópias, que logo se esgotaram. Tive que mandar fazer mais mil, e quase não tenho mais nenhuma. Foi quando comecei a receber convites para participar de programas de rádio e televisão, reportagens do mais diversos jornais.
E, 2004 tornei a participar, e novamente fui campeão. Nos anos subseqüentes parece ter diminuído o interesse nos concursos de piadas. Em alguns anos ocorreu, em outros não houve nenhuma manifestação por piadas.


Mas, mesmo assim lancei meu segundo e terceiro C.D., que estão sendo bem vendidos.


Como você vê, com camisa e chapéu escuros, colete dourado e gravata borboleta azul foi indumentária imaginada inicialmente por Carlos ABC. Já vi muitos humoristas na televisão e achei que havia necessidade de alguma caracterização. Mas não quis criar nenhum personagem com que me identificasse. Sempre achei que as piadas que contava deveriam atrair o riso e não como eu me apresentasse.

Nunca fiz nenhum curso de teatro ou de expressão corporal. O modo com que me expresso quando conto piadas é totalmente natural, e nada é estudado. Tento transmitir com gestos o que sinto quando transmito a piada.


Muito importante quando se conta uma piada é conseguir transmitir com exatidão o cenário onde ela ocorre. Isto faz com quem esteja ouvindo seja colocada em sintonia com o narrado.quando se encerra a piada, então é muito mais fácil transmitir a jocosidade do fato.
Pretendo chegar até um ponto onde meu trabalho seja reconhecido. Não sei se conseguirei isto aqui em Piracicaba.

Os três C.D. foram um sucesso.
Telefones para contato:
(19) 9718 3393
(19) 3413 0197
ou veja Lau Carrara contando piadas em:

domingo, 5 de julho de 2009

Despedida a Clemência Pizzigatti

Comentários finais. julho 2009


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Já se passaram alguns meses que Clemência nos abandonou.
Sabendo de sua capacidade nas artes, senti ser minha obrigação, ainda que tardiamente, fazer o retrato de uma mullher que não esmorecia, mesmo frente à morte, que indelevelmente se aproximava. Isto originou um pequeno filme, a disposição de todos e uma pequena entrevista presente neste blog.
Mas algo permaneceu oculto ainda, e havia a necessidade de se exteriorizar o sentimento que esta mulher conseguiu transmitir nestes efêmeros contatos. E este estava guardado com todo o carinho, realmente escondido, enterrado em um cantinho da alma, e não desejava dividir com quem quer que fosse. Mas, era um erro, e agora penso que chegou o momento em corrigi-lo.

O pequeno tempo em que tive contato com ela foi, acima de tudo, uma lição de vida. Por saber sorrir, por apresentar o maior carinho por todas as suas coisas (fossem grandes ou pequenas), por saborear cada dia, cada momento e cada fato de sua existência como se fosse o último, e fazer com que todos ao seu lado fossem impregnados por aquele desejo e impulsão de "quero mais", de dar graças àquele pequeno momento, quase desapercebido, onde uma borboleta passa voando, fazendo malabarismos impossíveis com os braços do vento agarrado às suas asas, ou o canto do pássaro ao fundo que vai se destacando e tomando volume, crescendo em importância e magnamidade , e subitamente tomamos consciência que é uma verdadeira sinfonia que brota naquela pequena garganta, e as notas saem a saltitar, desfilando pelo espaço imaginário, que o limite é nossa capacidade de percepção e da fantasia.
Ela conseguia até nos fazer inebriar com o momento mágico, em que um pequeno pedaço de mosaico, perdido na imensidão dos outros, tomava importância pela sua forma e cor perante os outros, e ia ocupar o seu exato lugar na composição. Era o feitiço da descoberta do suntuosamente importante no incomensuravelmente pequeno e até insignificante.
Sua visão do mundo, como geralmente de todos artistas que tem este dom dentro de si, é um mesclado de realidades, mas onde a magia de sua vontade consegue enevoar as áridas e rispidas arestas da fidelidade, transformando aquele mais rude elemento em uma pluma que somente pode acalentar a outrem, fazendo-a adormecer ao som das cantilenas, da suavidade e segurança que por ela se transmite à todos em sua volta. É a água transmutada em vinho... É a pedra filosofal da alquimia...
Ela já se foi. Mas conseguiu neste breve intervalo de tempo transmitir aos que a conheceram o verdadeiro "toque de Midas" da bondade, singeleza, da beleza, e da verdadeira magia em se criar momentos verdadeiramente eternos tendo com base a simplicidade.
Enfim, era uma fada entre nós, e sempre haverá uma estrela brilhando no céu, e quando a olharmos, vamos sempre sentir a magia e sedução de sua presença.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

O PALHAÇO


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Oh! quantas vezes, no Circo, sem vontade
sae o palhaço a rir, gostosamente,
entretanto, depois, na realidade
que de amarguras, diusfarçado sente!

Nem sempre o riso exprime a alegria,
nem sempre a dor exprime um soffrimento;
quantas vezes no instante de agonia,
o moribundo ri de seu tormento...

E qual palhaço pelo mundo sigo,
as minhas dores abafando em mim;
e mostro aos outros um prazer amigo
que, francamente, nunca foi assim!

Quem ama e sabe que um perigo o espretia,
seguindo-o pela vida passo a passo,
deixa de um lado a sombra da suspeita
e mente rindo, como um bom palhaço!

Rosto pitado e de figuras cheio,
feito de modo que um sorriso imponha,
causa à tristeza alegre desvaneio,
pobre palhaço, que, acordado sonha...

Pois quem assim me vê sorrindo tanto,
a minha dor não pode calcular...
E preciso iludir no riso o pranto,
quem ama alguém que já não pode amar!...

Pedro Voss Filho

sábado, 3 de janeiro de 2009

CANTADORES DE CURURU DE PIRACICABA



O Canto de improviso que existe não só em Piracicaba, mas também por uma vasta região denominada Vale do Médio Tietê (que se estende desde as cercanias da cidade de Bom Jesus de Pirapora até a de Barra Bonita), é geralmente denominado de “cururu”. Sua origem seguramente é muito mais antiga, remontando ao hábito dos cantos religiosos executados pelos jesuítas para a catequese dos índios, durante a fase de colonização.
Independente de suas origens, o importante é o que permanece ainda dele nos dias atuais. Os seus rastros mais recentes o colocam ligado com a Festa do Divino, há mais ou menos duzentos anos atrás. Ele é uma antiga tradição, intimamente ligado à esta festa, que ainda subsiste nesta área. (cf. filmes e texto do Divino)
Há um momento indefinido em que o cururu extrapola as festas religiosas, e torna-se uma apresentação totalmente profana.
O que a tradição oral transmite é que dentro das manifestações religiosas, o cururu iniciava-se como canto religioso e depois havia uma parte profana. Esta manifestação do cururu foi utilizada para fazer brincadeiras, transmitir informações e divertir a quem assistia a manifestação.
Em fases mais remotas, deve ter sido usada como forma de diversão entre os tropeiros, que provavelmente colaboraram na disseminação deste costume. Assim, podiam ter pequenos momentos de recreação em suas andanças. E aos cantos iam anexando o habitual de cada dia, incrementando os conhecimentos e divulgando fatos que ocorriam, de uma região para outra.
Seguramente, a parte profana (mais burlesca) provavelmente foi anexada nos espetáculos circenses antigos (os circos de cavalinho), e dentro deste contexto foi criando o seu humor mordaz e satírico como alguns se expressam nas suas apresentações. Havia a necessidade de um canto repentista onde fosse criada uma sensação de disputa, cômica, para poder motivar aos espectadores.
Com a implementação dos meios de comunicação que começaram a se estabelecer, na década de 1940 com o rádio e depois na década de 1950 com a televisão, mais uma vez foi modificando sua forma de apresentação com uma forma mais sofisticada de exibição, associado com sistemas musicais mais complexos, o que o descaracterizou totalmente, e foi a origem das outras formas de músicas hoje existentes.
Ainda conseguimos observá-lo em suas formas menos desfiguradas dentro das apresentações feitas em áreas rurais, onde ainda mantém alguma originalidade.


Convidamos Abel Bueno (*1933) para fazer apresentação especial mostrando o que é cururu de origem, aquele que sempre transmite uma mensagem. Já tínhamos anteriormente sua imagem em “Cururu de Roda”, que é a primeira concepção do cururu religioso ou sagrado. Se possível, será colocado brevemente na rede.
Optou-se por mostrar como o cururu pode transmitir uma evocação religiosa. O canturião tem um sonho, quando convida antigos cururueiros, que já se foram, para retornarem e se apresentarem. As citações de Pedro Chiquito, Dito João, Lazaro Albino, André de Sousa Galvão, são nomes de canturiões falecidos. O próprio Deus faz parte da concepção artística. A expressão utilizada, “para viajar com a voz do vento, escute o ronco do trovão“ era expressão antiga usada pelo cururueiro André de Sousa (sg. Serrinha).
Dentro deste pensamento desenvolve uma história, aonde vai construindo e descrevendo a ideação sobre esta festa fantasmagórica, até seu término.
Já é uma manifestação diferente da apresentada pelo cururueiro Moacir Siqueira ao saudar o altar no início de uma apresentação.
Ambas as apresentações, tanto a de Moacir Siqueira com Milo na viola, como a de Abel Bueno com Laurindo na viola são manifestações variantes de um cururu religioso ou sagrado.


Mesmo João Mazzero (Piracicaba), Horácio Neto (Cerquilho) e Manézinho Moreira (Conchas), quando cantaram imitando antigos cantadores, não deixaram de colaborar na montagem e sedimentação de arquivo onde fossem retratadas antigas toadas de canturiões que já se foram. Claro se torna que nunca será a mesma coisa de uma gravação do original, mas a oportunidade é impar e não pode ser desperdiçada, visto que os cantores atuais conviveram com estes que já nos deixaram.

Já que estamos falando em colaboradores na manutenção do cururu, não poderia deixar de citar o nome de Oscar Francisco da Silva Bueno, o "Serrinha", filho de Nhô Serra (Sebastião da Silva Bueno) que tem se mostrado um batalhador de fibra ímpar, na luta pela manutenção das tradições populares.
O mais importante, no meu ponto de vista, é que estes e outros cururueiros, cientes das rápidas transformações por que passam estes cantos repentistas, e presumindo seu esquecimento (como já ocorreram com muitos), não poupam esforços em fixar estas manifestações mais antigas, para que não caiam total obscurantismo, bem como amanhã possa se constituir em um arquivo vivo de uma fase áurea do canto repentista.
Somente temos a agradecer a todos os elementos envolvidos neste processo de manutenção das tradições, iniciado em 2004 e somente agora estando sendo aberto aos interessados.
Há uma série de vídeos no youtube.com mostrando estas diversas formas de manifestações.