sábado, 25 de setembro de 2010

RALPH, REQUIESCAT IN PACE






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Hoje você se foi. Depois de um longo mês de sofrimentos, você nos abandonou. Todos sofremos demais assistindo sua passagem. Todos lutamos para que isto não viesse a se concretizar, mas não foi possível, o destino não quis que você ficasse entre nós.

Mas o tempo que permaneceu conosco foi extremamente gratificante. Lembro-me a primeira vez que fomos apresentados. O responsável por isto foi meu sobrinho Ricardo, que o trouxe para casa de meus pais. Foi pelos idos de 1984. Ao inicio você era quase que totalmente branco, com algumas manchas pretas esparsas pelo corpo. Era extremamente pequeno e indefeso.

Minha mãe não queria você por perto alegando que quando você fosse adulto, seria grande e daria por demais serviço. Mas apesar dos pesares de imediato nos cativou e de modo irreversível. Ao início mal ficava de pé, e cabia sobre a palma de minhas mãos.

Seguramente não teria mais que uma semana. A história é que foi achado na rua. Nunca acreditei nisto, mas também nunca quis saber de onde era originário. Sempre tive um medo medonho de perdê-lo.

Quando voce entrou em minha vida ainda tinha os olhos fechados e mal comia E o que sem duvidas sabia fazer, e com maestria era chorar a ausencia do calor do corpo de sua mãe.

Durante um tempo isto atormentou a vida de muitas pessoas. Mas elas, as conhecidas bem como as desconhecidas tiveram a suficiente paciência para suportar suas lamúrias.

O início foi difícil. Você não queria saber de comer, a realidade é que ainda nem sabia. Olha lá ainda se sabia mamar. Foi um começo de dar leite na boca, com colher, com mamadeira, protege-lo contra o frio e intempéries da natureza. Depois com os olhos abertos começou a identificar o leite, e a tomá-lo. Mas também nunca dispensou as belas “molhadas” nos locais e horas mais imprevisíveis. Às vezes, sua sede era grande. Não foi por uma só vez que você tomou cerveja, quando ainda era criança. E o pior era que você gostava e sempre queria mais. É claro que eu não podia dar. Era algo impróprio para você.

Mas o tempo correu. Você foi crescendo. Logo minha mão não era suficiente para conte-lo. Foi necessário arranjar uma pequena sacola. E você nunca gostou de ficar a sós. Quando percebia que ia sair, não tinha dúvidas, abria o maior berreiro. Quase sempre você podia acompanhar-me. Mas quando isto era impossível, aí as coisas eram difíceis para mim.

Para acostumá-lo a ficar no quintal, foi outro grande sacrifício. Não queria ficar. E o pânico nunca deixou de dominá-lo. Principalment4e nos dias de chuva, quando trovoadas e relâmpagos povoavam a noite escura. Aí o medo era por demais, e fez inclusive com suas unhas, a porta da cozinha fosse destruída. Isto me obrigou a recobri-la com folha de zinco.

O tempo continuou a correr. O quintal já não era mais suficiente para seu tamanho. Todos os fins de semana, e sempre que podia, colocava-o no carro e íamos passear. Você sempre gostou de passear de carro. A sua alegria era incomensurável. Soltava ganidos de prazer. Latia para os animais. Desafiava-os com seus latidos. Quando solto nos campos, espraiava-se em loucas correrias, esbanjando sua saúde. Sempre foi um pouco desajeitado ao correr. Não só por uma vez tropeçou sobre suas próprias pernas. E aí caia gostoso, embolando-se pelo chão. Algumas vezes saia saltitante, outras, olhava-me com aqueles olhos, tentando entender o que havia acontecido.

Nunca vou esquecer a primeira vez que você nadou. Ficou a olhar para aquele mundareu d’agua do lago da prefeitura. Depois olhou para mim, como que pedindo autorização. Entrou com muito cuidado ao inicio, como que para prová-la. Saiu, e depois de olhar-me, sem dúvidas com receios, deu um magnífico pulo dentro dela. E aí saiu a bater as patas dianteiras. E eu todo preocupado, porque era a primeira vez que escapulia de mim para as suas reinações.

Este esquema continuou por algum tempo. Mas via que era impossível mante-lo. Você necessitava de mais espaço, de ter sua própria vida, seu mundo. Decidi-me então a deixá-lo na chácara. A primeira vez que o levei lá, fui buscá-lo logo à noite. Havia caído uma chuva por demais intensa. A inquietude foi demais. E ao chegar lá, em plena noite, fui encontrá-lo totalmente molhado, coberto de barro, tremendo de frio e de medo. Trouxe-o para casa. Foi uma noite longa, lavando-o no banheiro e secando-o com panos e depois com secador de cabelos.

Houve um período em que você conseguiu viver lá, tendo sua própria vida e espaço. Mas por diversas vezes, o trouxe em péssimo estado para cá, pensando que você viesse a ir. Graças, sempre consegui recupera-lo. Sempre tive o cuidado que não passasse o inverno lá. Você nunca foi amigo do frio. Sempre sofria demais neste período.

Mas sua idade foi avançando. Nestes dois últimos anos que você ficou conosco, senti que apesar de tudo, era preferível priva-lo de ir lá, e tê-lo comigo. Trouxe-o de novo para o pequeno quintal. Aí você dormia, no verão e no inverno, dentro de casa, sobre os tapetes.

Há uns dois meses apresentou um sangramento nasal violento. Você sempre o teve, mas não significante. Fiquei assustado. Todo o quintal ficou lavado de sangue. Ignoro o que foi feito por quem o tratou, mas você nunca voltou bom.

Mas o mês de maio foi terrível. Foi bem ao início. Um dia, você acordou sem poder andar. Suas pernas não obedeciam a seu desejo. Tentava andar, mas elas não se movimentavam adequadamente. E você esborrachava-se no chão.

As coisas não estavam nada bem. Eu estava preocupado. Já tinha notícias de muitos de sua raça que haviam tido problemas similares, e não haviam conseguido resistir. Lutamos, e com todos os recursos e forças possíveis. Por algumas vezes, pensei que fossemos ter sucesso. Mas depois as coisas permaneceriam, e você nada de sarar.

Diversos veterinários foram consultados, muitas medicações foram administradas. Mas não havia melhoras. Você continuava sem forças, sem ânimo. Olhava seu rosto, se sentia que você suplicava pelo auxílio que não poderia ser dado.

Na última noite que o vi conosco, senti em seu olhar a dor e tristeza estampada em seus olhos. Despedi-me, pensando que ainda o haveria de vê-lo no dia seguinte. Mas quando chegou de manhã, soube que você já tinha ido. Nada mais havia a ser feito, a não ser dar o devido repouso ao seu corpo cansado.
Assim, no mesmo dia, você foi levado para ficar junto com ou outros, que muitas alegrias haviam trazido a mim e à minha família. E a única coisa que restou, e que acalentou sua ausência, foi a tenra lembrança de suas alegrias. Seu ânimo inquebrantável, e as sensações ímpares que transmitiu durante sua passagem conosco.

Um comentário:

Rita de Cássia Lara Rossitti disse...

Nem imaginava q escrevia tão bem Dr Olivio Alleoni!
Q história linda a sua com seu cão, eu amo animais, pena q eles vivem tão menos q nós não é?