sexta-feira, 2 de abril de 2010

BRASÍLIA: Vislumbres de Infância 02


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Há coisas interessantes que ocorrem durante nossa existência. Há fatos corriqueiramente repetitivos e os habituais, que são a grande maioria das ocorrências. Mas também há os raros, como ver ser fundada uma cidade, e ainda raríssimo, como ver uma capital de um país ser mudada, como o foi a do nosso país para o vasto sertão central do Brasil.
Independente de seu contexto político bem como de todas as iniciativas que ocorreram para sua existência, bem como conseqüências de sua nova localização e atuação, a realidade é que pouquíssimas gerações (e pessoas) tiveram a oportunidade de ver um fato desta magnitude acontecer.




E neste aspecto, seguramente a fundação de Brasília é única. A grandeza inerente de ver uma nova cidade desabrochando em pleno sertão, a segunda mudança de capital ocorrida no Brasil, é sensação única e inexplicável a não ser para quem teve esta oportunidade.



Nos tempos que a Capital Federal se situava em Salvador, ocorreram invasões por estrangeiros (ingleses e holandeses).

A idéia de sua mudança para a área central (1761) já era defendida pelo Marquês de Pombal (1699-1782) e pela Inconfidência Mineira (1789). Em 1823 José Bonifácio (1763-1838) defendia a transferência da Capital para uma área central. Em 1891 a Assembléia Constituinte aprovou a mudança de Capital, que foi demarcada por Luis Crulz (1848-1908), Diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro. Mas, as tormentas governamentais que ocorreram nos anos vindouros fizeram com que a idéia permanecesse adormecida.




Ela foi despertada novamente com a entrada de Juscelino Kubtscheck de Oliveira na Presidência da República. E a coroação da idéia ocorreu precisamente em 21 de abril de 1960, com a inauguração de Brasília.



Retornando a idéia inicial, há oportunidades únicas da vida de algumas pessoas. E minha família não poderia deixar de testemunhar tal fato. Independentemente das dificuldades a se enfrentar, seríamos testemunhas da fundação de Brasília.
Minha mãe Antonieta, minha irmã Maria Ruth, meu irmão Rossini com sua esposa Neyde e eu nos mobilizamos para esta viagem.


Saímos de Piracicaba três dias antes da inauguração, indo para Brasília em um Jeep. Nas cidades dormíamos em hotéis, e quando estes não existiam, repousávamos como os outros, na beira das estradas. Enfrentamos o asfalto, as estradas de terra e chegamos um dia antes da inauguração. Em Brasília não havia restaurantes onde se fazer as refeições. A alimentação era distribuída pelo Exército, em caixas de papelão, com dois lanches, dois ovos cozidos, uma fruta e um pequeno pacote de sal em seu interior. Não faltava ampla distribuição de leite e água. Também estava lá o sino que badalou anunciando a morte de Tiradentes (1746-1792), agora anunciando com suas badaladas a nova Capital Federal. E assim fomos testemunhas junto com candangos e outras pessoas de ver surgir uma nova cidade e Capital do Brasil.



E de toda esta experiência, algumas palavras ficaram indelevelmente marcadas em nossas mentes:




"Deste Planalto Central, desta solidão em que breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com uma fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino".
Juscelino Kubistchek


Os maiores agradecimentos à família, que nunca deixou de ter o espírito de conhecimento no sangue, permitindo que em minha infância conhecesse o Brasil.
E, de todas as recordações, a mais palpável é um pedaço de mármore arrendodado, branco, onde, com a letra de minha mãe, esta escrito: Brasília, 21 4 1961.

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